Decidi presentear-vos com uma crónica do psicólogo Eduardo Sá...
Eduardo Sá
"(...) há avós que são pais duas vezes. São
arrojados e sóbrios e casam bondade com autoridade. É verdade que são ainda
melhores pais quando se tornam avós. Na verdade, os pais aprendem a ser pais á
medida que são educados pelos filhos. É claro que também dão aos netos mais,
ainda, do que deram aos filhos. Estes avós são muito menos egocêntricos do que
os pais, E perdem a vergonha de abraçar, de se comover, ou de dizerem «gosto de
ti!», e trocam uma ida ao cinema pela correria de um neto, de braços abertos, em
direcção a si. E percebem que a sopa nunca é uma questão essencial das confusões
de um jantar, mas o lado birrento das crianças/atropelado pelo dos pais) que,
numa tontice, desatam num braço de ferro sem fim.
Há avós que tentam ser pais pela primeira vez, mas o melhor que conseguem é comportar-se como se fossem tios...um pouco mais velhos. Todas as patifarias que uma criança ainda não imaginou já eles a deixaram fazer. No fundo, comportam-se como crianças assustadas: imaginam que os melhores amigos das crianças são aqueles que exilam todos os «nãos» num pais distante ou que põem todas as regras agrilhoadas numa galáxia que fique a anos-luz da Via láctea. Estes avós - reconheço – não são fáceis. Porque instalam lá em casa democracias do proletariado, e porque disputam o amor dos pais, nalgumas circunstâncias, com as crianças. E não só o amor: também regras. (por outras palavras, sempre que os pais dizem as crianças «se tens duvida em relação a quem manda em ti, quando estamos com os avos, é o pai e a mãe»! falam para elas e para estes avos. e pior! Têm uma coligação de amuos difícil de gerir...) é claro que, muitas vezes, os pais reagem de inveja contra estes avos. Porque, pelos cuidados que dispensam aos netos, os pais não deixam de imaginar os cuidados que receberam deles. Imaginam mais do que recordam. E isso faz com que os filhos lhes tragam, de volta, os pais que não tiveram.
E há muitos avós que nem com os netos tentam ser pais pela primeira vez.
Invejam a vida das crianças, sentem que o sorriso delas exagera decibéis, acham a bondade dos pais para com elas como um prenúncio de uma guerra civil para os bons costumes, e exigem boa educação aos netos quando são os primeiros mal-educados.
Felizes os netos que têm os primeiros e os segundos (mesmo que esses sejam avós só aos bocadinhos)!"
Notícias magazine 7 Ago. 2005
Há avós que tentam ser pais pela primeira vez, mas o melhor que conseguem é comportar-se como se fossem tios...um pouco mais velhos. Todas as patifarias que uma criança ainda não imaginou já eles a deixaram fazer. No fundo, comportam-se como crianças assustadas: imaginam que os melhores amigos das crianças são aqueles que exilam todos os «nãos» num pais distante ou que põem todas as regras agrilhoadas numa galáxia que fique a anos-luz da Via láctea. Estes avós - reconheço – não são fáceis. Porque instalam lá em casa democracias do proletariado, e porque disputam o amor dos pais, nalgumas circunstâncias, com as crianças. E não só o amor: também regras. (por outras palavras, sempre que os pais dizem as crianças «se tens duvida em relação a quem manda em ti, quando estamos com os avos, é o pai e a mãe»! falam para elas e para estes avos. e pior! Têm uma coligação de amuos difícil de gerir...) é claro que, muitas vezes, os pais reagem de inveja contra estes avos. Porque, pelos cuidados que dispensam aos netos, os pais não deixam de imaginar os cuidados que receberam deles. Imaginam mais do que recordam. E isso faz com que os filhos lhes tragam, de volta, os pais que não tiveram.
E há muitos avós que nem com os netos tentam ser pais pela primeira vez.
Invejam a vida das crianças, sentem que o sorriso delas exagera decibéis, acham a bondade dos pais para com elas como um prenúncio de uma guerra civil para os bons costumes, e exigem boa educação aos netos quando são os primeiros mal-educados.
Felizes os netos que têm os primeiros e os segundos (mesmo que esses sejam avós só aos bocadinhos)!"
Notícias magazine 7 Ago. 2005
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